A Ford construiu de modo artesanal 20 unidades da segunda geração do Mercury Sable com carroceria de alumínio e o potente motor SHO V6 do Taurus. Os poucos modelos experimentais da tecnologia ainda estão rodando por aí, mas potencialmente destinados aos compactadores de sucata. Esta é a história destes carros.
Quando a Ford começou o programa Aluminum Intensive Veicle (AIV) eles anunciaram a “promessa do alumínio” no material para a imprensa. Mais caro que o aço, mas significativamente mais leve, o alumínio seria o futuro da produção automotiva se houvesse uma forma de estampar e unir as peças. A primeira tentativa de produzir qualquer quantidade de veículos de alumínio resultou no projeto Sable AIV. Nenhum dos materiais de imprensa explicava por que escolheram um Sable e não um Taurus, mas é possível que tenha sido pela natureza um pouco mais nobre do modelo (o Sable era uma versão mais luxuosa do Taurus vendida sob a marca Mercury).
Peças de alumínio não eram incomuns nos carros em 1993, mas eram usadas essencialmente no motor, nas rodas ou nos componentes do ar-condicionado. Também eram usadas no Acura/Honda NSX, que tinha produção reduzida e foi o primeiro carro do mundo a ser construído em monobloco de alumínio; e no topo de linha da Audi, o A8.
Mas em um Sable? Usar peças de alumínio nos painéis da carroceria era algo novo, especialmente em um carro de produção em massa como o sedã da Mercury. Esse carro tinha painéis de alumínio que foram soldados e unidos por adesivos – ambos os procedimentos foram inventados para possibilitar a produção deste carro. Com o uso de peças de alumínio na suspensão e em outros componentes, o carro pesa 180 kg a menos que um Taurus.
Sobre o motor SHO, provavelmente há uma outra razão além de velocidade e potência. O V6 de 3,2 litros da Yamaha usa um cabeçote de alumínio, enquanto no V6 Vulcan o cabeçote é de ferro. Como o projeto visava também a redução de emissões, não há registros de tempo de aceleração, mas a redução de peso combinada com o motor de 222 cv fazem deste carro o mais rápido Taurus de segunda geração já produzido.
Como prova, um dos Sables AIV terminou em 15º na One Lap Of America de 1995, à frente de Mustangs Cobra, Corvettes ZR1 e Porsches RUF. Um total de 40 unidades foram construídas à mão em 1993, mas somente 20 deles foram postos à venda. O resto foi usado em testes de impacto e um deles serviu para o conceito Ford Synthesis 2010 – uma dica de direção de estilo que a terceira geração do Taurus tomaria, com proporções ainda mais estranhas que o modelo final.
O legado deste carro é claro. O uso de alumínio nos carros da Ford, Jaguar e Aston Martin aumentou nesses 17 anos passados desde o lançamento do Sable AIV. Em geral, o uso de alumínio nos carros europeus aumentou de 50 quilos em 1990 para 132 em 2005. De acordo com a revista Modern Casting, a média dos carros produzidos nos EUA será de 127 quilos por carro em 2014.
Ironicamente, em um artigo no New York Times de 3 de abril de 1994, há uma citação do futuro presidente da Chrysler, Chris Pruess, dizendo que o alumínio “não é uma opção economicamente viável”.
O destino dos poucos Sables AIV remanescentes é obscuro. O proprietário do modelo acima diz que o carro deve retornar à Ford, onde provavelmente será compactado. Nenhuma das pessoas com quem falamos na Ford sabe o que vai acontecer, mas esperamos eles não destruam essa parte tão interessante da história.
Texto: Matt Hardigree para o Jalopnik Brasil – Publicado em 2010