Taurus SHO

O Taurus SHO é um dos sedãs americanos mais legais de todos os tempos — e ele faz 25 anos em 2014. Por si só, o Taurus já era um carro inovador. O quanto? Bem, para se ter uma ideia, seu lançamento em 1985 foi um marco para a indústria automotiva americana — o Taurus tinha um visual mais moderno do que a concorrência, quase futurista, com aerodinâmica favorável à economia de combustível. Além disso, o interior trazia comandos intuitivos para o motorista — todos eles feitos de modo que fossem imediatamente reconhecíveis pelo tato. Quer outra curiosidade sobre o Taurus? Foi a Ford quem convenceu os órgãos de regulamentação dos EUA a permitir faróis de formato livre — até então, todos os carros usavam faróis retangulares padronizados.

Com motores de quatro cilindros em linha e V6, o Taurus de primeira geração era um carro muito competente, que não demorou a se tornar um sucesso de público e crítica — revistas como a Motor Trend o chamavam de “carro do amanhã” —, mas a versão que ficou famosa entre os entusiastas não estava nos planos. Ou estava?

O caso é que, um ano antes do lançamento do Taurus, a Ford encomendou à Yamaha um novo motor baseado no V6 Vulcan que equipava o sedã. Com três litros de deslocamento e comando no bloco, o Vulcan rendia 140 cv — e a Yamaha conseguiu elevar este número para 223 cv.

Para começar, os cabeçotes de ferro fundido deram lugar a componentes de alumínio — que também traziam quatro válvulas por cilindro em vez de duas. Além das 24 válvulas, o motor de 2.986 cm³ de deslocamento tinha diâmetro dos cilindros de 89 mm e pistões com curso de 80 mm — fazendo dele um superquadrado, capaz de girar alto e com suavidade.

Para se ter uma ideia, enquanto a potência de 223 cv vinha aos 6.200 rpm e o torque máximo de 27,6 mkgf de torque aparecia aos 4.800 rpm, o corte de giro acontecia aos 7.300 rpm — graças a um limitador eletrônico. Sem restrições, o V6 era capaz de girar a até 8.500 rpm. O nome “SHO” significa “Super High Output” e, bem, dá para dizer que é apropriado.

A Yamaha também deu ao V6 um coletor de admissão de geometria variável — em altas rotações, os dutos ficavam mais largos, admitindo mais ar com menos pressão e favorecendo a potência em um regime mais alto. Além disso, o coletor tinha um visual simétrico muito bonito, e torna o V6 SHO instantaneamente reconhecível.

Mas, afinal, por que a Ford queria este motor? O Taurus SHO só foi lançado em 1989 — cinco anos depois. Pois bem: a Ford estava preparando um esportivo de motor central-traseiro para brigar com o Chevrolet Corvette — que havia acabado de chegar à sua quarta geração e estava mais moderno do que nunca — e principalmente com os esportivos europeus.

O projeto se chamava GN34, e foram feitos dois protótipos funcionantes usando como base o De Tomaso Pantera. Um deles era equipado com o motor V6 SHO (o vermelho), enquanto o outro recebeu um V8 351. Mas a Ford cancelou tudo, e os recursos financeiros poupados para financiar o desenvolvimento do SUV Explorer. Como tinham um belo motor pronto e nenhum carro para colocá-lo, a Ford decidiu criar uma edição limitada do Taurus.

Esta história nos deixa com aquele gostinho de “e se…” na boca, e só não é mais triste porque, se não fosse por isso, provavelmente o Ford Taurus SHO jamais tivesse virado realidade.

O Taurus SHO era diferente de um Taurus normal, mas não chamativo a ponto de entregar o que havia no cofre. O capô era diferente do resto da linha — vinha do Mercury Sable — e tinha novos para-choques, saias laterais e luzes de neblina. Por dentro, as principais diferenças eram os bancos com mais apoio e o conta-giros, que marcava até 8.000 rpm. Ah, e o Taurus SHO era o único modelo da linha disponível com câmbio manual — o MTX-IV, de cinco marchas, desenvolvido pela Mazda.

O resultado era um carro que se enquadrava um dos nossos tipos favoritos de versão esportiva: os entendidos sabem que se trata de um carro especial logo de cara, mas os leigos pensam que é “só” mais um Taurus, sem nem desconfiar que ele é capaz de chegar aos 100 km/h em 6,6 segundos, fechar o quarto-de-milha em 15 segundos e atingir os 230 km/h de velocidade máxima — números matadores para a época.

O Taurus SHO foi planejado apenas para o ano-modelo de 1989. Contudo, com seu sucesso a Ford decidiu mantê-lo em linha por mais alguns anos. Em 1990, o carro ganhou um novo interior e freios ABS, e o ano seguinte trouxe rodas de 16 polegadas, freios ABS e câmbio atuado por varetas em vez de cabos. Também em 1991 veio a série limitada SHO Plus, com novos capô e emblemas e outras diferenças estéticas.

No ano seguinte, o Ford Taurus ganhou uma nova geração — bem parecida com a anterior, prova de que aquela estava mesmo à frente de seu tempo — e, com ela, veio um novo SHO. A Ford manteve as mesmas especificações mecânicas para o novo carro, que foi vendido até 1995.

Há quem considere este o último Ford Taurus SHO de verdade — a geração seguinte do sedã, que trouxe uma mudança radical no design e na proposta, mais voltada ao luxo e ao conforto, não convenceu os fãs do modelo antigo nem mesmo com seu motor V8.

O motor do Taurus SHO lançado em 1996 era baseado no Ford V6 Duratec, porém com bloco projetado pela Cosworth, o V8 SHO tinha cabeçotes projetados pela Yamaha e e tinha deslocamento de 3,4 litros. Contudo, sua potência de 237 cv não impressionava — até porque o câmbio era o mesmo automático de quatro marchas dos outros Taurus, não exatamente o mais recomendado para uma condução esportiva.

O desempenho e o estilo “oval” adotado pelo novo SHO fizeram com que as vendas despencassem, e por isso a Ford decretou o fim da versão esportiva apenas três anos depois, mesmo lançando uma versão conceitual em 1998 chamada Taurus Rage:

Em 1999, seu último ano, o Taurus SHO vendeu pouco mais de 3 mil unidades — seis vezes menos do que o carro lançado dez anos antes.

Em 2009, porém — coincidentemente, dez anos depois — a Ford decidiu reviver a icônica sigla. O lançamento da sexta geração era a oportunidade perfeita para isso, e o nome SHO foi trazido de volta mesmo que o motor não fosse aquele desenvolvido pela Yamaha. Em vez disso, a Ford optou pelo V6 Ecoboost de 3,5 litros e 370 cv que, acoplado a uma caixa semi-automática de seis velocidades, é capaz de levar o carro de 0 a 100 km/h em 5,2 segundos.

Com visual relativamente discreto, o Taurus SHO voltou a ser um sleeper de respeito, ainda que em 2013 uma reestilização o tenha deixado mais agressivo. O que importa é que, mesmo que o significado da sigla tenha ficado no passado, o legado continua vivo.

PORTLAND, OREGON-March 12, 2012– The new 2013 Ford Taurus SHO is launched in Portland, Oregon as media have the first opportunity to drive the new product. The 2013 Ford Taurus SHO is sportiest model yet to wear SHO badge, offering unique, performance-inspired design and road manners to match. (03/12/2012)